07 março 2008

A revolta de Ninguém

Nada corre bem, resmunguei, disse que não, que não queria, não me ouviram, assim foi o dia, que passou a correr, a correr mal, ouvi dizer que era Sexta-Feira e que tudo devia correr bem, não correu.

De volta, apanhei o transporte habitual, vinha vazio, vem sempre vazio, mas ali enche, enche até não caber ninguém, hoje foi assim, fiquei em pé. Não dormi, tinha vontade, mas não se dorme em pé, já dormi, mas tentei não dormir, podia cair, por isso aguentei, com os olhos abertos, a ver as pessoas sentadas.

Finalmente um lugar vazio, estava quase no fim da viagem, pensei que não valia a pena o esforço, acho que todos pensaram assim, e o lugar lá ficou vazio, então decidi sentar-me.

Avancei, duas senhoras sentadas impediam-me de alcançar o lugar, parei, olhei, pensei que tivessem pena do meu olhar de sono e desviassem as pernas e os sacos, não aconteceu assim, já não havia retorno, tinha avançado para o lugar, tinha que me sentar, mas os dois obstáculos não se moviam.

Avancei mesmo assim, pisei, empurrei, tropecei, elas não se moveram, mas lá me consegui sentar, fiquei cansado, não adormeci, mal me sentei, tive que me levantar, tinha que sair, a estação final tinha chegado.

Nada corre bem, a elas também não correu, tinha eu que as incomodar, logo hoje, numa Sexta-Feira em que tudo corre bem, mas correu mal.

O dia seguinte

Descubro, indo pela net, que ontem, depois do segundo golo sofrido pelo Benfica, os Benfiquistas saíram em debandada da frente do televisor, confesso que fui um deles, e descubro também que voltámos minutos depois para ver em quantos é que ia a sova, sim, que naquele momento levar menos que 7 ou 8 seria um fracasso para a equipa adversária.

E parece que é ponto assente que voltámos quase todos, mais minuto menos minuto, quando se deu o golo do Mantorras, e ficámos mais uma vez pasmados, como é possível que o único "coxo verdadeiro" que lá temos, jogue mais que todos os outros, às vezes mais com o coração, mas pelo menos ali ainda se vê alguma garra, ou amor à camisola.

Fiquei até ao fim, parece que ficámos todos, não sei porquê, naqueles últimos minutos acreditámos, às vezes é assim, basta um jogador para nos fazer acreditar.

05 março 2008

Ninguém como eu


Acordo, está frio, não me apetece levantar, mas já me levantei, não sei como isto aconteceu, sem dar por mim já estou na estação.

Levo o jornal? não, suja as mãos e hoje quero dormir na viagem.

Fim da viagem, desço na estação sombria, que mal fez a cor a esta estação, para esta ter sido banida? desço, desço ainda mais, ando, devia correr o relógio também corre, vou chegar atrasado.

Devia ter trazido o jornal, o comboio subterrâneo não aparece, olho para a outra plataforma, cheia também, cheia de pessoas, olham para onde? olham para aqui? raio do comboio que não aparece, devia estar a ler o jornal, olho novamente para o outro lado, as mesmas pessoas, os mesmos olhares, o comboio fantasma aparece, não tem luz, não abre, não tem pessoas, pára e arranca, e lá vai ele assombrar a estação seguinte.

O relógio arranca, já me ultrapassou, vou chegar atrasado, o comboio lá aparece, este pára, no destino não corro, não me apetece, tanto faz, já estou atrasado.

Está calor agora, dispo-me, alguém olhou? não sei, não me interessa.

O tempo passa, vou voltar, a estação sombria me espera, chegou um dos novos, ainda cheira a novo, sento-me e fecho os olhos, tenho que os abrir, o senhor de cinzento está à minha frente, fecho-os novamente, em que estação estou? não sei, vou deixar passar mais uma, abro os olhos, estou a meio caminho, raios, fecho os olhos e sonho, ou ter sonhado é o sonho? não sei, devia sair aqui mas ainda sonho de olhos fechados, alguém me diz que devia abrir os olhos, não os abro, vou abrir só um, sim, devia sair aqui, fecho o olho, abro os olhos em pânico, e corro como o vento para fora.

Estou no sítio certo, quase fui para o errado, acabou, posso finalmente parar, desligar o aparelho, e simplesmente fazer nada, é bom.

Uma palavra nova, "come ants", quem come formigas, ou faz comentários, no dicionário particular de ninguém.

03 março 2008

Um dia na vida de ninguém

Levanto-me, olho pela janela, não sei que tempo é este, está frio ou está quente? ou serei eu que estou assim, com frio e com calor.

Vou, saio, não sei que transito é este à porta, bem até devo saber, é principio do mês há que gastar o ordenado em gasolina.

Chego na estação, não me apetece correr, vou deixá-lo ir, vou no próximo, ou então noutro qualquer que passe.

Na metrópole, tantas pessoas a correr, porque não corro também, não me apetece, hoje decidi que chegava quando chegasse.

Cheguei, como consegui ser dos primeiros, será que corri? não me lembro, se calhar corri, lembro-me de estar a ouvir uma música mais rápida, se calhar corri ao ritmo da música.

Hoje decidi que não ia fazer nada de importante, não quero estragar nada, afinal não cumpri a promessa, correu tudo bem, acho!! não me lembro, se calhar correu.

Vim embora, gosto do caminho de volta, com calma, uso os passos ao contrário, desta vez corri, corri para apanhá-lo, não sei se valeu a pena, está cheio, não percebo, não me deixam passar, fico ali.
Um lugar vazio, ninguém o quer? faz-me pena um lugar vazio, vou sentar-me.

De volta, a província está na mesma, cheia de gente, não percebo, bem até percebo, é o êxodo da metrópole.
Vou devagar, o trânsito está de volta, não percebo, será das obras, das eternas obras, ou das obras eternas, não as sei distinguir, para mim são eternas.

Faço um desvio, vou à loja, sei o que preciso, mas prefiro ir ver outras coisas, estou com pressa, mas desta vez não me importo, vou ver outras coisas, é melhor ir ver o que preciso, não existe, é sempre assim.

Vou embora, vou por dentro, não aguento mais pessoas, ou será os carros, ou as pessoas dentro dos carros?

Cheguei, de volta ao covil, sinto o sabor da terra, há coisas que não mudam, e eu não as consigo mudar, vamos ficar assim.